domingo, 29 de julho de 2007

O Filme da Semana (30/2007)

Silvestre 1982
M127/10
http://us.imdb.com/title/tt0083082/
Só agora tive oportunidade de ver este filme de João César Monteiro, e realmente é um bom filme.
César Monteiro lançou a carreira da Jovem Maria de Medeiros, na altura com 15 anos, ao dar-lhe o papel principal neste filme. Hoje Maria de Medeiros é só a mais mediática de todas as actrizes Portuguesas.
Uma vez perguntaram a César Monteiro qual era o melhor actor Português, ao que ele respondeu que não sabia, que o que sabia era que o Joaquim de Almeida não era.
Para os que têm dúvidas, vejam “Silvestre” e confirmem que realmente é Luís Miguel Cintra o melhor actor Português.
O quarto filme de João César Monteiro é a transposição para cinema de um conto popular português. Os planos do filme altamente estilizados inserem os personagens em representações igualmente soberbas.
A acção passa-se no séc. XV; Dom Raimundo, um senhor interessado em alargar os seus domínios, combina o casamento de uma das suas duas filhas - uma legítima, Sílvia, a outra bastarda, Suzana - com um vizinho rico e jovem, Dom Paio. Depois, ausenta-se para a corte. Durante a ausência do pai e mais tarde, aquando do banquete nupcial, ocorrem insólitos acontecimentos, que envolvem um peregrino a Santiago e um cavaleiro, que desejam as duas meninas.
Adaptação de dois contos tradicionais portugueses: "A Mão do Finado" e "A Donzela que Vai à Guerra".
Seleccionado para a Mostra de Veneza, em 1981, impôs além-fronteiras o nome de João César Monteiro como cineasta de culto.
"... No belíssimo "Silvestre" (...), João César Monteiro (...) recriou a história da donzela que foi à guerra e que para se fazer soldado se fez passar por mancebo. Sílvia volveu-se Silvestre, numa referência clara a "Sylvia Scarlett" de Cukor.
Recorrendo ao estúdio para recriar a Idade Média, tempo do seu filme, César Monteiro assinou a sua obra plasticamente mais bela, com admiráveis referências à pintura do século XV, flamenga e italiana. E em "Silvestre" se revelou a actriz que teria nos anos 80 a carreira internacional com que tantas das suas predecessoras sonharam, sem jamais o haverem conseguido: Maria de Medeiros perturbantíssima presença, que foi capaz de dar rosto e corpo, aos 17 anos que então tinha, ao mito do andrógino que representava. Ao lado dela, Luís Miguel Cintra, Jorge Silva Melo e Teresa Madruga contribuem para um nível de representação rarissimamente alcançado em filmes portugueses e para um prazer de "beleza" que este filme assume radicalmente, nas suas caleidoscópias referências e citações."
João Bénard da Costa, in Histórias do Cinema, col. Sínteses da Cultura Portuguesa, Europália 91, ed. Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
"Se a crítica deve ser excessiva e apaixonada, sejamo-lo: "Silvestre é um clarão. Como tal, ofuscante, exponencial. Como tal, certamente destinado a dividir, queimar, zurzir, a faixa estreita dos medíocres e dos insensíveis. História de amor e de amor maldito, cego, negro, "Silvestre" descobre, de nós portugueses de chão agreste e excessos impensáveis, a paixão da desordem.
Da nossa linguagem colhe a raiz e confirma, em César Monteiro, um talento de escritor. Da nossa moral colhe a ordem (D. Rodrigo/João Guedes, Suzana/Teresa Madruga), a subversão (Sílvia/Maria de Medeiros, o cavaleiro/Luís Miguel Cintra) e a tontice (D. Paio/Jorge Silva Melo, o alferes/Xosé Maria Staviz) e toma partido. Da memória da pintura de todos os territórios colhe as imagens, o claro-escuro, os matizes, a sombra. Da vida colhe o muito amor e a ácida ironia. E com tudo isso se faz um filme apaixonante.
Não cabem aqui muitas palavras. Mas retenha-se: 1) os actores sem excepção. 2) a fotografia, sublime. 3) Os cenários. 4) A acerada economia de meios para extremas intensidades."

Jorge Leitão Ramos, in Dicionário do Cinema Português 1962-1988, ed. Caminho, 1989.
Prémios e Festivais:
Menção Especial CIDALC-Centre pour la Difusion des Arts et des Lettres par le Cinéma, no Festival Internacional de Cinema da Figueira da Foz, em 1981
2º Prémio do Público no Festival de Cinema de Antuérpia, Bélgica, em 1982
Se7es de Ouro ao Melhor Actor - Luís Miguel Cintra, e à Melhor Actriz - Maria de Medeiros, em 1983

1 comentário:

Peyroteo disse...

João César Monteiro was one of the most controversial, exuberant, strange, mad, awarded, blessed, genius, talked about, extraordinary Portuguese movie makers of all time. And maybe one of the best directors in the world. I know it sounds ridiculous at first, but he is a man with an unique view on the world. And even though his late movies can be repetitive ( he was stuck on a character, he was stuck on the image of himself)he has made in his career some inventive and touching films. This is one of those cases. When I was a kid I used to see some movies over and over again. From great classics like Rio Bravo to the blockbusters of the time like Superman. And I saw them time and again, repeating the parts I liked the most. It was so with Silvestre. This is the kind of movie (if you see it with an open mind, it's a theatrical film) that will take you to a wonderful journey of knights and adventures. See it and let the magic carry you.