domingo, 8 de julho de 2007

O Filme da Semana (27/2007)

Storie di Ordinaria Follia (Contos da Loucura Normal) 1981
M188/10
http://us.imdb.com/title/tt0086410/
http://it.movies.yahoo.com/s/storie-di-ordinaria-follia/index-348924.html
http://www.kataweb.it/cinema/scheda_film.jsp?idContent=118954
Quando este filme foi feito eu tinha apenas 8 anos e portanto “passou-me ao lado”.
Conheci a história deste filme no meu ano de Caloiro na Universidade, pela boca daquele que foi o meu melhor amigo nesse ano, que é 6 anos mais velho do que eu, e que tinha visto o filme no cinema, penso que numa reposição por volta de 1990.
Para o Carlos, este tinha sido até ao momento só o “filme da sua vida”.
No meu ano de Caloiro fazia longas viagens entre o Porto e a Covilhã, e por mais do que uma vez se falou no filme, que é baseado no livro de Charles Bukowski “Erections, Ejaculation, Exhibitions, and General Tales of Ordinary Madness”.
Por isso antes de o ver, tive o privilégio de já conhecer a história e é claro, de saber que a protagonista é a fantástica Ornella Muti.
Eis que 3 anos depois (1996), estava uma noite em casa e a RTP2 decidiu passar este filme, que é de facto muito bom.
A versão que passou era falada em Inglês e legendada.
Ben Gazzara interpreta o papel de um escritor alcoólico, o melhor papel que lhe vi fazer; e Ornella Muti está impecável.
Isto para além de em 1981, neste filme, Ornella estar nuns ideais 26 anos de idade, dando como se costuma dizer, “tesão a um morto”.
Gostaria de lembrar que Ornella Muti foi a menina bonita do cinema mundial no final dos anos 70; e durante grande parte da minha vida, a minha “actriz fetiche”.
Agora desde 2003, esse “lugar” é da Scarlett Johansson.
Mas para quem não conhece bem a Ornella, vejam as fotos de 2007, onde ela está com 52 anos! Incrível, ainda é o desejo de qualquer um!
Esta semana tive oportunidade de rever o filme, numa versão Italiana e voltei a gostar muito dele.
Há 2 cenas que não mais se esquecem:
- Ben Gazzara sofre o desejo de “voltar para o ventre da mãe” e tenta penetrar uma obesa mórbida com a cabeça ao mesmo tempo que vai bebendo vinho de um garrafão;
- Ornella Muti decide acabar com a sua vida de prostituta e por cima das calças fura os lábios da vagina com um grande alfinete-de-ama, fechando-o em seguida. É aqui que decide dar um novo rumo à sua vida, dizendo a Ben Gazzara que: “Fechei-a, para ti e para todos! Fechei-a para o resto da minha vida.

3 comentários:

Anónimo disse...

Contos de Loucura Normal
Não foi por acaso que "despejei" alguns poemas de Charles Bukowski, é que hoje relembrei o filme que marcou uma importante fase da minha vida, quando a Filosofia, a Psicologia, a Sociologia e a Antropologia começavam a afinar e desafinar as cordas mais resistentes dos valores que me haviam sido incutidos. Um filme que me fez entender a importância de SER e não de Existir. Que me fez entender que a vida é mesmo feita de pequenos nadas que às vezes deixamos passar "ao lado" porque social e éticamente não é aceitável. Passei a permitir-me rolar nos jardins, sentar-me nas escadas, nos mármores e sentir a textura dos materiais, passei a cantarolar pelas ruas, a contaminar a minha boa disposição aos desconhecidos... a viver com os cinco sentidos na procura da VERDADE apenas com o intuito de ser FELIZ!!! Deixo-vos dois comentários sobre o filme: "Mantendo o teor alcoolico altíssimo e alçando um vôo de 15 anos adiante, encontramos essa obra-prima de Marco Ferreri, inspirada na obra de Charles Bukowski, o poeta/romancista mais bêbado da América, nascido em Andernach, Alemanha, em 16 de Agosto de 1920 e já falecido... Afeiçoado dos derrotados e porta-voz dos desiludidos, sua obra, encharcada de cerveja e de destilados consumidos aos litros entre um e outro bar de Los Angeles - sua cidade preferida, altar de sua poesia pungente de becos e sarjetas - deixa transparecer nas entrelinhas de um estilo "rude" e furioso, um espírito romântico e cheio de uma ternura genuína e solitária, tal um errante poeta do sub-mundo, dos párias e dos fracassados, numa espécie de jornada em busca do autêntico e do desmascaramento da hipocrisia, explorador da beleza oculta no sórdido e na violência de um mundo insano e sem sentido... Marco Ferreri realiza esse "Crônica de um amor louco" baseando-se em alguns contos que constam de sua obra "Ereções, Ejaculações, Exibicionismos", principalmente "A mais linda mulher da cidade", episódio que apresenta Cass, "Sempre muito animada ou então deprimida, com Cass não havia esse negócio de meio termo.", interpretada pela belíssima Ornela Muti. Ben Gazzara incorpora de forma estupenda e cheia de um humor auto-reflexivo, mas de rasgada e lúcida amargura, esse personagem raro, e imprime ao filme, de absurdo lirismo e de uma beleza de tirar o fôlego, a dignidade do poeta beberrão Charles Bukowski, americano desde os 2 anos de idade, funcionário dos Correios durante 14 anos, realista cronista do cotidiano, ou simplesmente Henry Chinaski, ator de seus desvarios e loucuras através do "sonho americano", um anjo caído... ...esse é o filme que inaugurou a minha década de 80... um lindo e doído poema... ... dá mais um whiskie aí...
Ter estilo é banir de nossas vidas o equilíbrio medíocre dos sensatos, dos ponderados. É viver, sem medo das conseqüências, a louca paixão pelos extremos, como verdadeiros deuses humanos. Como Ferreri e Bukowski. É preciso muita coragem. Alguém se habilita?

Anónimo disse...

Storia di Ordinaria Follia (1982) - "Contos de Loucura Normal)
"Crónica de Um Amor Louco" - "Tales of Ordinary Madness"
DIRECÇÃO: Marco Ferreri
ANO: 1981
PAÍS: Itália/França
DURACÇÃO: 108 min.
ROTEIRO: Sergio Amidei, Marco Ferreri, Anthony Foutz
ELENCO: Ben Gazarra, Ornella Mutti, Tania Lopert

Anónimo disse...

OLD MAN, DEAD IN A ROOM - Charles Bukowski
quando minhas mãos pálidas
deixarem cair a última caneta
num quarto barato
eles vão encontrar-me
e nunca saberão
meu nome
minha intenção
nem o valor
da minha fuga

SOIREÉ - Charles Bukowski
minha garrafa fica no armário
como um anão esperando para ferir minhas preces.
bebo e tusso como um idiota numa sinfonia,
há luz do sol e aves enlouquecidas em todo o lugar,
o telefone toca derramando os seus sons
pelos confins do mar revolto;
bebo intensa e calmamente agora,
bebo ao paraíso
e à morte
e à mentira do amor.

(fragmento de "Uma palavrinha sobre os escrivinhadores de poemas rápidos e modernos" de Charles Bukowski / tradução de Jorge Wanderley para "Os 25 melhores poemas de Charles Bukowski" - Bertrand Brasil, 2003)
"… é muito fácil parecer moderno enquanto se é na realidade o maior idiota jamais nascido; eu sei: eu joguei fora um material horrível mas não tão horrível como o que leio nas revistas; eu tenho uma honestidade interior nascida de putas e hospitais que não me deixará fingir que sou uma coisa que não sou – o que seria um duplo fracasso: o fracasso de uma pessoa na poesia e o fracasso de uma pessoa na vida. e quando você falha na poesia você erra na vida, e quando você falha na vida você nunca nasceu não importa o que digam as estatísticas nem qual o nome que sua mãe lhe deu."